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Velhos mas ainda ativos - idosos também em risco

A Muslim woman working with GOAL teaches healthcare and use of condoms in Sudan, May 2006. GOAL is an international humanitarian organisation. Neil Thomas/IRIN
A Muslim woman working with GOAL teaches healthcare and use of condoms in Sudan

James Kioko*, 55 anos, gerente de um hotel quatro estrelas em Nairóbi, capital do Quénia, rejeita os preservativos como algo “sujo, que encoraja a prostituição e destrói casamentos”.

“Não quero saber nada deles,” acrescentou, ecoando a opinião de muitos quenianos acima dos 50 anos, que nunca beneficiaram de uma campanha de informação sobre Sida dirigida especificamente a eles.

Embora um em cada 14 seropositivos tenha mais de 50 anos, este grupo etário tem sido largamente negligenciado pelos programas de HIV. Idosos são geralmente considerados em risco principalmente pelo seu papel como guardiões de filhos e netos seropositivos.

“A susceptibilidade dos idosos à doença e sua necessidade de ser incluídos nas estratégias de HIV e Sida não estão a ser consideradas”, disse a organização de caridade HelpAge International (HAI), num comunicado no Dia Mundial da Sida 2006.

“Dados sobre as taxas de infecção são apenas colhidos para efeitos de comparação entre mulheres e homens de 15 a 49 anos no país, de modo que a propagação do HIV nos grupos de idosos continua desconhecido e sem registo”, continuou o comunicado.

O Programa Conjunto das Nações Unidas para HIV e Sida (Onusida) reconheceu que um número significativo de seropositivos tem mais de 50 anos. Por isso, em 2006, começou a apresentar seus cálculos para “todos os adultos acima da idade de 15 anos”, e não apenas aqueles entre 15 e 49 anos.

Apesar de muita gente continuar sexualmente activa bem depois dos 50 anos, mitos e desinformação sobre o HIV persistem entre os idosos, que não têm esclarecimentos sobre métodos de transmissão, prevenção e protecção.

“O HIV não tem limite de idade desde que a pessoa seja sexualmente activa,” disse o director regional do programa da HAI, Amleset Tewodros.

“É uma concepção errada pensar-se que depois dos 60, as pessoas já não são activas e portanto não correm o risco do HIV. É difícil determinar a prevalência de HIV neste grupo; os provedores de saúde geralmente não insistem com eles para os testes”, continuou.

Um relatório recente concluiu que os centros de aconselhamento e testagem voluntária não são acessíveis para os mais idosos.

“Os serviços não são facilmente acessíveis devido às longas distâncias e aos problemas de mobilidade que impedem os idosos de chegar aos sítios”, lê-se no relatório preliminar sobre a implementação da Política e Plano de Acção da União Africana sobre os Idosos no Quénia.

“Os mais idosos muitas vezes não têm informação relevante e actualizada sobre HIV e Sida; a falta de informação adequada significa que as pessoas mais velhas são incapazes de prover os devidos cuidados, e de proteger-se e prevenir-se da infecção”, comenta o relatório.

Mais velhos, mas ainda na ativa

Sobbie Mulindi, planificadora de estratégias de HIV/SIDA e consultora na Organização Mundial da Saúde, disse que homens de 50 anos ou mais muitas vezes têm dinheiro disponível para conquistar parceiras sexuais mais jovens, tornando-as uma ponte de propagação do vírus entre pessoas mais novas.

Mulindi também observou que a falta de modelos seropositivos entre a geração mais velha pode ser uma possível razão para a pandemia continuar ser considerada “um problema da juventude”.

Em zonas com alta seroprevalência, como a província ocidental de Nyanza, Mulindi disse que práticas culturais prejudiciais, como a poligamia e herdar esposas, eram responsáveis por colocar idosos sob um crescente risco de contrair o HIV.

Drogas para melhor desempenho sexual, como o Viagra, também estão a ajudar a propagação da pandemia, ao manter homens mais velhos viris por mais tempo do que normalmente seriam. Muitas vezes estes homens não usam protecção nas suas práticas sexuais com “ndongo ndongos” (jovens meninas), disse Mulindi.

"Nunca vi um preservativo"
Pauline Okech, nos seus 50 anos, nunca foi testada para HIV, mas seu receio sobre a possibilidade de ser seropositiva é justificado.

“Tenho um marido que gosta muito de mulheres”, disse ela à IRIN/PlusNews. “Ele mete-se em sexo com elas regularmente e não liga para meus protestos.”

”Ele herdou quatro mulheres após a morte dos seus maridos”, disse. “A última que herdou morreu no ano passado [e] diz-se na aldeia que os homens e mulheres todos morreram da “doença má.”

A “doença má” é a Sida. Mãe de três filhos, ela disse que, para além da constante infidelidade, seu marido sujeitava-a a espancamento regular. Isso eventualmente a forçou a fugir da província ocidental queniana de Nyanza para sua actual residência na crescente favela de Korogosho, em Nairóbi.

Okech, que nunca frequentou uma escola, disse que nunca resistiu ao sexo com o marido. Ela não tinha poder sobre os assuntos dentro do quarto de dormir e, mesmo que ela tivesse tal poder de negociação, ela não tinha formas de protecção.

“Não sei como me proteger das infecções transmitidas sexualmente. Só ouço falar disso, mas nunca vi um preservativo, e nem sei como usá-lo”, disse.

O farmacêutico James Mwangi* concorda. “Os afrodisíacos são geralmente usados pelos homens da geração mais velha que aceitaram que sua libido diminuiu. O maior perigo é que eles não usam qualquer protecção quando vão praticar sexo”, afirmou.

Mwangi observou que as drogas para melhorar o desempenho sexual são disponíveis “somente com prescrição médica”, mas pessoas de baixa renda podem obter genéricos a baixo preço de farmacêuticos sem escrúpulos. O Viagra, por exemplo, pode custar US$ 10 por comprimido, enquanto o genérico custa menos de US$ 1, o que os coloca ao alcance da maior parte da população.

Luz no fim do túnel

Mulindi desafiou o Conselho Nacional de Controlo da Sida (NACC) do governo a desenhar uma estratégia para lidar com o HIV na população idosa.

“Até agora não os colocamos como alvo específico no nosso plano estratégico nacional, mas já decidimos alterar isto na próxima revisão”, disse Harriet Kongin, chefe de coordenação das partes interessadas na NACC.

Kongin acrescentou que os programas para pessoas acima dos 50 vão incluir programas de prevenção, como educação sobre o preservativo, bem como encorajar pessoas mais velhas a testar e a frequentar os Centros de Aconselhamento e Testagem Voluntária.

Tewodros, da HAI, disse que outras iniciativas, como formação de pessoas mais velhas em cuidados domiciliários, educação de pares e aconselhamento, vão também facilitar o acesso à informação sobre o HIV.

* Os nomes foram trocados.


This article was produced by IRIN News while it was part of the United Nations Office for the Coordination of Humanitarian Affairs. Please send queries on copyright or liability to the UN. For more information: https://shop.un.org/rights-permissions

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