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Paraíso perigoso – sol, sexo, drogas e HIV

Heroin 2. BBC

Não é fácil evitar os clichés quando escreve-se sobre as Ilhas Maurícias: praias de areia branca, sol, céu azul e palmeiras. Este arquipélago paradisíaco do oceano Índico é típico de um catálogo de agência de viagens. Saindo-se de um avião cheio de turistas e casais em lua-de-mel, vestindo camisetas onde lê-se “recém casados”, é fácil compreender como o turismo tornou-se a principal fonte de renda das Maurícias.

Os turistas não são os únicos a afluir. O intenso tráfico aéreo e marítimo entre a ilha e o sul e sudeste da Ásia, a Austrália, a África e a Europa, associado aos portos francos e aos serviços bancários offshore, fizeram das Ilhas Maurícias um paraíso para os traficantes de drogas.

“Em certas famílias, o tráfico de drogas é uma atividade que passa de geração em geração. É uma maneira de ganhar dinheiro, muito dinheiro”, comentou Imran Dhannoo, diretor do Centro Dr. Idrice Goomany, serviço de tratamento de toxicodependência.

Segundo o Escritório das Nações Unidas contra Drogas e Crime (UNODC), o tráfico de drogas está expandindo sua rede e atravessando a Etiópia, as Ilhas Maurícias e a Tanzânia.

Estes países servem de pontos de entrada de drogas ilícitas vindas da Ásia, que são em seguida encaminhadas ao Quênia e à África Austral e Ocidental, nas rotas de distribuição destinadas à Europa e à América do Norte.

Parte destes narcóticos acaba nas ruas lotadas da capital das Ilhas Maurícias, Port Louis, para satisfazer a demanda interna. A heroína é a preferida; metade dos consumidores preferem injectá-la.

Fayzal Sulliman, diretor do único centro a oferecer o tratamento com a metadona, substância substituta usada na cura de desintoxicação de usuários de heroína, efetuou uma rápida pesquisa há três anos, e estima que 20 mil Mauricianos sejam usuários de drogas injectáveis (IDU, em inglês) – a maior prevalência deste tipo de dependência em África.

Vulcão que vai explodir

“Eu tinha 20 anos quando fiquei viciada”, disse Marie-Ange Frivert. “Foi de pois que meu filho nasceu. Ele tinha três anos. Meu marido e eu nos separamos... eu não conseguia habituar-me à solidão. Eu comecei com o ópio. Então, quando o ópio desapareceu, eu comecei a usar a heroína”.

Ela tinha 41 anos quando foi procurar ajuda no Chrysalde, centro de tratamento para mulheres. Após a reabilitação, ela passou a trabalhar no centro como voluntária; três anos depois ela passou a fazer um trabalho comunitário junto à indústria do sexo. “Eu vou aos lugares onde vende-se drogas, ofereço aconselhamento e dirijo-os ao centro; eu também distribuo preservativos”.

A maioria das mulheres que utilizam drogas injectáveis vendem sexo para sustentar o vício. “Elas precisam da droga, que custa caro... e este é um meio rápido e fácil de ganhar dinheiro”, disse Frivert ao PlusNews.

O cálculo é simples: se cobras 100 rupias (US$ 3) por cliente, dois clientes pagam por uma “dose” de heroína. “Uma pessoa viciada precisa de três ou quatro doses por dia, o que corresponde a seis ou oito clientes diários”, acrescentou ela.

A rápida pesquisa de Sullivan mostrou que 50 por cento dos usuários de drogas compartilhavam agulhas, 80 por cento nunca usavam o preservativo, e dos 4,8 mil trabalhadores do sexo que eram também usuários de drogas injectáveis, 25 por cento compartilhavam as seringas.

Estes resultados ilustram um terreno ideal para a transmissão do HIV: o comportamento sexual de risco e a partilha de agulhas permetem o contacto direto com o sangue e desta maneira a transmissão do HIV de usuários seropositivos a usuários seronegativos.

“As coisas mudaram nas Ilhas Maurício. O uso de drogas injectáveis passou a ser o modo mais importante de transmissão do HIV”, disse Sulliman ao PlusNews.

Os números também mudaram. Em 2005, a prevalência do HIV na Maurícia era somente de 0.1 a 0.5 por cento, mas hoje estatísticas do governo revelam que atinge 1.8 por cento.

“As Ilhas Maurício estão sobre um vulcão que vai explodir”, advertiu Farida Oodally, contacto local do Onusida. Ela disse que o movimento entre as ilhas era comum, e que os governos tinham que encarar de frente esta ameaça.

Troca de agulhas

O tratamento dos usuários de drogas contra a dependência e o HIV é controvertido. Onde o tratamento é disponível, trata-se a dependência a uma droga específica, incluindo tratamentos de substituição como a metadona, e programas de troca de seringas e agulhas para fornecer equipamento seguro aos usuários.

A resistência do governo é do público a estes programas é forte, porque às vezes acredita-se, embora não haja provas, que eles encorajam os não-injectores a usarem drogas.

Em 2006, uma nova legislação foi adotada para permitir o uso terapêutico da metadona para a desintoxicação. O programa piloto já está a funcionar há um ano, tendo tratado, até hoje, 350 usuários de drogas.

O governo também tem trabalhado com organizações não-governamentais (ONGs) na prevenção da transmissão entre toxicodependentes. A unidade HIV/Sida do ministério da Saúde lançou programas para atingir os usuários de drogas injectáveis e encorajá-los a fazer o teste HIV e participar de um programa de reabilitação.

Segundo Oodally, a distribuição de preservativos aumentou, e eles agora são mais accessíveis em farmácias e centros de saúde.

Em Novembro de 2007, o governo lançou o programa de troca de agulhas em colaboração com a CUT (Collective Urgence Toxida, em francês), uma coligação de ONGs que trabalha com o abuso de drogas e o HIV, disse Nathalie Rose da CUT.

Rose, que também é trabalhadora social, está frustrada com o ritmo: “Ainda é muito lento”, comentou ela a respeito do tempo que foi preciso para convencer o governo a lançar campanhas de troca de agulhas.

Sulliman concorda: “O país está atrasado na implementação de medidas de redução de danos, mas isto é compreensível: é uma decisão muito difícil de ser tomada por um governo”.

Entretanto, Dhannoo adverte: “As drogas e a Sida não seguem os caprichos de um governo. Uma seroprevalência de 1,8 por cento é muito alarmante. Nós temos uma boa documentação, uma boa estrutura; não precisamos mais de planos, mas de ação.”

Kn/he/ms


This article was produced by IRIN News while it was part of the United Nations Office for the Coordination of Humanitarian Affairs. Please send queries on copyright or liability to the UN. For more information: https://shop.un.org/rights-permissions

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